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Angústia

Rosane Mendonça

Atualizado: 17 de fev. de 2020

Lacan nos diz que “a angústia é um afeto que não engana”. O que quer dizer isso? Isso quer dizer que ela é um afeto que afeta o corpo do sujeito de uma determinada forma que ele não tem dúvidas quanto ao que está sentindo naquele momento. A angústia se impõe ao sujeito com uma intensidade tal, que ele não tem como ignorar, não tem como fazer de conta que nada está acontecendo. Ela aperta o peito, ela sufoca. A angústia é um sinal. Sinal do eu que diz ao sujeito que algo grave está acontecendo a ele. Sinaliza que ele está deixando de ser quem realmente é, está abrindo mão da sua verdade, está perdendo a sua liberdade de escolha, ficando dessa forma submetido ao desejo ou ao gozo do Outro.


É interessante como a angústia não cessa de se impor ao sujeito, de se fazer sentir enquanto ele não resolve de vez a situação que o está deixando angustiado. A angústia só “sossega” quando o sujeito faz uma mudança real naquilo que provoca o seu mal estar, o seu sofrimento.


Mesmo que o sujeito “pense” e diga que vai fazer isso ou aquilo, e imagine todas as possibilidades para fazer a mudança, a angústia mesmo assim, não cessa. Vai continuar fazendo barulho e questionando o sujeito. E por quê? Porque ela não sabe das “intenções” do sujeito, ela só sabe que ele está deixando o Outro lhe invadir. Ela não crê que o sujeito realmente vai fazer tudo o que promete para si mesmo. O sujeito é um ser que promete e por muitas vezes não consegue cumprir suas próprias promessas. Sendo assim, a angústia de certa forma é advertida disso, ela sabe das ilusões, das desculpas e das resistências que o sujeito cria para si mesmo.


Por isso ela é intensa, não dá espaço para que o sujeito relaxe, até que ele realmente consiga fazer o que é necessário e principalmente realizar aquilo que é de seu desejo. Só assim a angústia “sossega”. Só assim ela fica desativada momentaneamente, da mesma forma que um alarme instalado numa casa fica desativado enquanto nenhum ladrão tentar entrar na casa, só sendo disparado novamente quando detectar um novo ladrão.


Assim é a angústia, o alarme do sujeito frente à invasão do Outro.

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