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Ser fiel a si mesma

Rosane Mendonça

Atualizado: 17 de fev. de 2020

Uma mulher precisa ser fiel a si mesma. Precisa ser fiel ao seu desejo, a sua verdade. Precisa se afirmar naquilo que é mais importante para ela. Não ceder de seu desejo para agradar o outro. Algumas mulheres tem a ilusão de que se agradarem o outro, se forem compreensivas, se não criarem caso e conflito vão resolver a situação de sofrimento pela qual estão passando. Ledo engano. Quanto mais uma mulher renuncia de seu desejo para o outro na tentativa de ficar tudo bem, mais as coisas pioram para ela. Mais o outro se apropria do seu desejo. Cada vez mais ela fica doente no corpo e na mente.


Uma mulher que se autoriza de seu desejo tem uma vida leve, apaixonante e prazerosa. Em O desejo é a lei, está submetido a ela, nos alerta Lacan. Para haver desejo é preciso haver lei. O desejo só pode existir porque a lei do pai se inscreveu. É o pai - que em psicanálise é um significante, o significante denominado Nome-do-Pai - que pode barrar a relação simbiótica entre mãe e filho e instaurar o desejo no filhote de homem. Essa fase inicial no relacionamento entre mãe e filho denominada de alienação é fundante e constituinte do sujeito, do eu. Porem é necessário que ocorra uma nova operação, a fase da separação entre mãe e filho. Essa separação é causada pela metáfora paterna que incide no desejo/gozo da mãe sobre seu filho. Somente a lei da castração, da separação (que é sustentada pela linguagem) é que pode promover a vida psíquica do sujeito. Sujeito desejante que se direciona para fora da relação dual com a mãe.


É a insuficiência dessa lei, desse terceiro organizador (metáfora paterna) que entra na relação dual mãe-filho que faz com que o sujeito fique desorganizado na sua vida, porque ele fica amarrado na posição infantil, na demanda eterna de amor, na espera pelo Outro: “o que o Outro quer de mim?”.


Quando se está nessa dúvida, nessa confusão (nessa neurose) entre a demanda do Outro e o desejo próprio do sujeito, há como efeitos sintomas, angústias e inibições na sua vida, permanecendo o desejo anestesiado, reprimido.


O sujeito (neurótico) numa análise é capaz de sair dessa posição confusa entre ele e o Outro. Pode sustentar seu desejo e começar a imantar os seus próprios objetos, fazendo invenções. Suas pulsões são sublimadas e sua libido é investida no mundo enlaçando os vários objetos de satisfação parcial.


Mas o desejo é diferente do anseio ou do querer, que são da ordem do imaginário, do pensamento, da fantasia. A fantasia nos dá pistas sobre o desejo, mas só sabemos se é desejo no a posteriori, na experiência. Uma experiência que o sujeito precisa viver na própria carne e sem garantias.


Tudo que faz tem desejo e é causa de desejo por onde passa. Não tem mais queixa e nem quer mais ser sofredora. Não quer mais se oferecer como o falo para tapar o furo de ninguém. Pelo contrário, deixa o outro em falta para que ele possa crescer e se haver com o próprio furo, com a própria falta. A mulher é guardiã da falta e com essa falta ela inventa muitas coisas.

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